“Para a imprensa, só a acusação dá manchete”, diz diretor do Conjur
Publicado em Quinta, 27 Novembro 2014 15:58

Escrito por Nathália Carvalho
Como o Ministério Público deve se portar diante da imprensa? Como deve acontecer o relacionamento? Quais são os limites? Como é a postura dos repórteres? Essas e outras questões foram respondidas nesta semana durante encontro entre promotores, procuradores de Justiça e jornalistas realizado em São Paulo. A iniciativa é do Movimento de Ministério Público Democrático (MPD), que realizou a conversa em sua sede. Quem comandou a discussão foi o diretor do site Consultor Jurídico (Conjur), Márcio Chaer (foto: divulgação), que afirmou que a imprensa só dá manchete à acusação. “Defesa nunca rende destaque. Alguns jornalistas trabalham como se todas as acusações fossem, essencialmente, verdadeiras”, criticou.
A relação da imprensa com o Ministério Público foi explicada por Chaer durante o evento. Ele contou que, atualmente, o Ministério Público vive momento de profissionalização. “Antes, a preocupação era mais com o espetáculo do que com o papel que o MP tem de desempenhar. O importante era gerar notícia e não condenações. Tanto é que o volume dos resultados era bem pequeno”. A questão do espetáculo foi amplamente discutida. O diretor do Conjur explicou, inclusive, que os veículos precisam desse tipo de abordagem para sobreviver.

“Algumas coisas não há forças que resolvam. Temos uma população praticamente analfabeta. Não é o forte do brasileiro se informar pela escrita. Assim, a pessoa desprovida de conteúdo tende a ir pela emoção, já que não trabalha com a razão. Dessa forma, se você fizer um jornalismo de melhor qualidade do que está aí, vai perder leitores. A imprensa não quer fazer um trabalho ruim, mas ela é obrigada a publicar coisas ruins porque é refém de seu leitor e este não quer nada de bom. O jornalista, por sua vez, não publica o que quer. Se ele fizer isso, perde”.

“Jornalismo de Aquário”

Também no evento, o Promotor de Justiça José Carlos Blat falou de sua experiência com a imprensa e revelou que aprendeu na prática a lidar com os repórteres. A grande crítica do profissional é com relação ao que ele chama de “jornalismo de aquário”. “A partir da década de 1990, o jornalista criou relação de intimidade com a fonte de maneira bastante cômoda. E isso só se agravou depois das novas mídias. No jornalismo de aquário, o repórter fica na redação e liga para os promotores perguntando o que tem de bom naquela semana, como se fosse uma barraca de feira. Isso é falta de responsabilidade tanto da fonte quanto do jornalista”.

Blat informou que, com a atual relação da mídia com o Judiciário, não atende mais a pedidos de entrevista por telefone. “Se o repórter quiser falar comigo, ele precisa vir me encontrar pessoalmente. Acredito que aconteceram excessos das duas partes ao longo dos anos e agora estamos vivendo uma época de amadurecimento, como comentou o Márcio (Chaer)”. O promotor disse, ainda, que algumas coisas precisam ter parâmetros, como as informações em off e a exclusividade.

Transparência

Em 2012, o MPD realizou um seminário e divulgou dados de uma pesquisa nacional sobre a implantação da Lei de Acesso à Informação pelos Ministérios Públicos. Os resultados foram preocupantes. Eles descobriram que muitos questionários não foram respondidos e os que responderam deixaram claro o baixo grau de implantação da lei. Chaer comentou que o Ministério Público foi considerado o órgão mais opaco e obscuro da República. “Não publica nada, não divulga resultados e, assim, várias pautas, inclusive favoráveis, deixam de ser veiculadas”.

O evento realizado nesta semana reuniu cerca de 20 pessoas, que contribuíram com o debate e relembraram histórias do MPD. O encontro teve o apoio da Associação Brasileira de Jornalistas Investigativos (Abraji), Associação dos Canais Comunitários do Estado de São Paulo (Acesp), Aagência de Web Analitcs (AZ Click), Conjur e Flag Comunicação.