Maria Fernanda Dias Mergulhão e Ministério Público Democrático, 22.10.2024 11:18
A memória social de um país é a sua história revivida, é a história de lutas, angústias, alegrias, perdas, conquistas, vida e morte de um povo. Gerações de pessoas passam pelo mesmo locus, novos modelos de construções são idealizados, espaços comunitários ofertados, novos rituais e hábitos incorporados à vida humana, e uma nova geração de pessoas se substitui àquela outra.
Os mais ávidos, movidos por curiosidade intelectual, procuram na literatura, na história, nos museus, e mesmo nas simples entrevistas informais com pessoas idosas, obter informações de um tempo que não existe mais, e jamais voltará. Mas qual importância do passado para entender a modernidade?
Um país que não zela por sua história: sua memória social está fatalmente condenada à repetição dos mesmos erros, agora com novas pessoas, já que as pessoas são finitas, mas os erros cometidos por outras pessoas são infindáveis.
Nas experiências que antepassados vivenciaram, que o país testou, e não foram exitosas por terem gerado revoltas, humilhação, fome, desigualdade social e violência, colhem-se importantes experiências que devem servir de importante apêndice para novas venturas.
À medida em que não possuímos campanhas e museus interativos, assim como canais que alcancem nosso povo jovem — as mídias sociais — informando, e formando o necessário senso crítico acerca de tudo que foi testemunhado em solo brasileiro como degrau imprescindível à compreensão das auguras do cotidiano, não estaremos zelando pela memória social brasileira.
Nessa linha, o que representou a ditadura militar perante os familiares sobreviventes de um número expressivo de pessoas desaparecidas (até hoje) e assassinadas, assim como em momento anterior, na década de 30 do século 20, o que representou o integralismo antes do Estado Novo de Getúlio Vargas, como exemplo inexorável de extrema-direita sob os auspícios da emblemática campanha fundada em “Deus, Pátria e Família”, sem olvidar para a experiência recente que os vivos podem contar, que foi a dura experiência da pandemia de covid 19 por quase dois anos consecutivos, cujos standards comportamentais colhidos desse tenebroso período histórico da humanidade, em tempos atuais, são pífios, e sem mencionar o movimento negro, o movimento feminino, o movimento na saúde pública, que culminou com a implementação do maior programa de saúde pública do mundo, o SUS.
Celebrar data de nascimento, ou morte, ou mesmo feito histórico de ícones brasileiros integra o conteúdo da memória social de um país. Mas como celebrar sem instruir o povo através de informativos acerca do que já aconteceu? Trata-se de papel exclusivo das escolas e universidades? Como fazê-lo diante da altíssima evasão escolar e do desinteresse de muitos jovens pelo ensino universitário? Rememore-se que há pesquisa recentemente publicada em grandes mídias sobre a canalização de recursos de jovens “tentando a sorte” em bets e jogos online, adiando e anulando plano universitário engrossando, ainda mais, a estatística péssima de escolaridade!
É papel das iniciativas pública e privada zelar pela memória social desse grandioso país, e direito cívico dos eleitores cobrar dos novos candidatos à disputa eleitoral compromisso e fomento com essa nobre causa. Esse será um passo forte, dentre outros necessários à nossa caminhada, rumo à emancipação de nosso povo.
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