“A eleição presidencial norte-americana realizada em 3 de novembro de 2020 assinala um momento de inegável importância na história do país, na história da civilização ocidental e na história política das democracias, inscrevendo e inaugurando uma página de igualdade de gênero, de igualdade de etnias e de revalorização da justiça, dos direitos humanos e do próprio Direito no núcleo central do governo.

Evidentemente, a presença de Kamala Harris como vice-presidente de Joe Biden é o principal fator desse marco, reconhecido e mencionado em todo o mundo, quer nos setores feministas, quer nos setores acadêmicos, na América, na Europa, na Ásia, na África e nos países da Oceania.

Uma rara conexão de fatores positivos alicerçam essa conquista, atestando-lhe a relevância. A primeira mulher eleita para o relevante cargo provém da área jurídica. Descende da mescla de etnias distintas: a indiana e a africana, ambas estranhas ao padrão anglo-saxão, fato absolutamente saudável para a reafirmação da diversidade. A ascendência indiana, asiática, provém da mãe da vice-presidente eleita, que se dedicou às ciências. E a africana, negra, provém do pai, nascido na Jamaica, professor universitário. Pensamos que, nesta altura do processo de desenvolvimento da civilização, as mencionadas características de natureza étnica nem deveriam chamar tanto a atenção como, de fato, chamam.

Afinal, a era moderna se intitulou o apanágio das liberdades e das democracias. Entretanto, embora espantoso, o fato é que ainda não se implementaram, na prática, os valores de igualdade (de gêneros, de etnias, de crenças), tolerância, respeito, diversidade, dignidade, liberdade que regem, pelo menos no plano teórico, as democracias da contemporaneidade. Em nossos dias, ainda nos deparamos com elementos de barbárie que insistem numa indevida e anacrônica subsistência: resquícios de obscuridade e ignorância, divisões e posturas autoritárias cujo destino histórico deverá ser o total desaparecimento. É nosso dever, como operadores do Direito e cidadãos, conduzir o anacronismo e a obscuridade às portas de um cabal desaparecimento.”

A procuradora aposentada do MP-SP, Beatriz Helena Ramos Amaral, publicou na coluna MP no Debate na ConJur no dia 18 de janeiro, artigo intitulado “Kamala Harris inaugura um projeto de paz e justiça”.  Diretora do Movimento do Ministério Público Democrático, Beatriz abordou a importância histórica dos Estados Unidos terem uma mulher como vice-presidente, sendo ela negra e tendo exercido os cargos de Procuradora-Geral da Califórnia e Senadora.

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