Nenhum outro na História honrou e dignificou este lugar de poder como Francisco, que conquistou o respeito de todos os Homens, de todos os povos, de todas a religiões. Não será simples a missão de Leão XIV

Por Roberto Livianu
13/05/2025 | 10h45

A escolha do Papa Leão XIV, o norte-americano e peruano Robert Francis Prevost chega carregada de grandes expectativas para a humanidade, depois de um pontificado de doze anos em que o Papa Francisco enalteceu a preocupação com os menos favorecidos, renunciando a privilégios, levando até o final uma vida de despojamento, humildade e coragem em prol dos excluídos e dos injustiçados.

Nestes doze anos, marcados pela simplicidade e humildade, incluiu cardeais de continentes historicamente esquecidos – a África e a Ásia e para que fossem admitidos era essencial sua trajetória pastoral, sua ligação direta com o povo, especialmente mais humilde, como foi o caso de Prevost, que durante mais de 20 anos atuou no Peru, dizendo duas primeiras palavras na Basílica de São Pedro em italiano e em espanhol (e não em inglês – de sua naturalidade).

São historicamente dois papas oriundo da América (registre-se que nos Estados Unidos a maioria da população é evangélica) – isto jamais havia acontecido antes. Francisco autorizou mulheres e leigos a terem direito a voto no sínodo e a decisão representou um avanço do pontificado em direção a uma Igreja mais aberta e plural, não se sabendo como isto se seguirá doravante.

Francisco sempre se fez acessível ao povo nas viagens e aparições públicas, notando-se em relação a Leão XIV uma excelente interação pastoral próxima às pessoas, fazendo questão de enaltecer a importância da construção de pontes em suas primeiras palavras, assim como o destaque à paz, contrapondo-se aos conflitos e a seus isolamentos.

O Papa Francisco promoveu uma corajosa depuração, enfrentando de forma destemida os questionamentos relacionados à corrupção que eram apontados ao Estado do Vaticano. Verifiquemos que tipo de encaminhamento será dado ao tema por Prevost.

O Papa Jorge Mario Bergoglio foi destemido ao reconhecer atos de abuso sexual cometidos por sacerdotes católicos, pedindo perdão ao mundo pelas pedofilias desprezíveis que vitimizaram número incontáveis de vítimas pelo mundo afora. Há um grande ponto de interrogação em relação aos rumos que dará à Igreja neste capítulo o Papa Leão XIV.

Da mesma maneira, O Papa Francisco autorizou permanentemente todos os sacerdotes católicos a absolverem pessoas envolvidas com a prática do aborto (tanto mulheres, quanto médicos, por exemplo) que decidirem se confessar. Há resistências significativas por parte de setores da Igreja Católica em relação ao tema.

Francisco fez questão de incluir no seu périplo de quarenta e sete viagens ao redor do mundo, a Terra Santa, dialogando com lideranças judaicas e palestinas em busca da construção da paz, tema destacado na primeira fala de Leão XIV, sendo plausível que se espere o prosseguimento do trabalho importante que vinha sendo construído pelo Papa Bergoglio.

E trabalhando incessantemente em prol da diversidade, para que a Igreja Católica tenha um olhar mais humano e inclusivo em relação a fatias historicamente excluídas – refiro-me ao universo LGBTQIA+.

Francisco era extremamente preocupado com o meio ambiente e com o tema das mudanças climáticas, assim como em uma de suas primeiras declarações sobre tema espinhoso para a Igreja, afirmou que as pessoas gays não deveriam ser marginalizadas, mas integradas à sociedade.

Ele deu início ao maior processo de consulta popular da Igreja, no qual 1,3 bilhão de fiéis foram convidados a opinar sobre o futuro da instituição, o que significa preocupação fervorosa também com os valores da Democracia.

Além disto, o Vaticano anunciou mudança na doutrina da Igreja feita a pedido de Francisco que passa a considerar a pena de morte inadmissível em todos os casos. Francisco abriu debate sobre o voto de celibato (comprometer-se a não se casar ou manter relações sexuais com outrem), que pode ser revisto pela Igreja.

São temas extremamente sensíveis que dizem respeito ao âmago dos valores da doutrina Cristã, em relação aos quais há grande expectativa sobre sua condução por Prevost, que é Mestre em Matemática e Doutor em Direito Canônico.

Mas, vale registrar que talvez a expectativa do mundo tenha aumentado ainda mais depois do pontificado de Francisco, pela maneira singular como conduziu a Igreja Católica.

Hoje no planeta, a figura mais relevante que se apresenta, com autoridade, peso da palavra, poder de mediação que paira acima de todos os homens, acima de todos os Estados, ainda que não detenha jurisdição, por seu peso moral, filosófico, histórico e político – é o Papa, Chefe de Estado do Vaticano.

E nenhum outro na História honrou e dignificou este lugar de poder como Francisco, que conquistou o respeito de todos os Homens, de todos os povos, de todas a religiões, de todas as gentes do mundo, por todo o sempre. Não será simples a missão de Leão XIV.